Exercício físico na artrose: Herói ou Vilão?

28 de ago. de 2024

                Se o seu joelho foi diagnosticado com artrose, a dor provavelmente faz parte do seu dia a dia. Ela chega de mansinho, como quem não quer nada, e aos poucos vai mostrando as garras. Além disso, começa a limitar o quanto você consegue caminhar, o tempo que consegue ficar em pé... Crises de dor podem atormentar seus dias, como um incêndio nas articulações. Falou em fogo, nada mais natural que chamar os bombeiros! Nesse caso, costumam ser os remédios analgésicos e, principalmente, os anti-inflamatórios, medicamentos que figuram entre as principais ferramentas de controle de dor a nossa disposição.

                Entretanto, nem tudo são flores! Chamar os bombeiros tem suas armadilhas... Gastrite, sangramentos gastrointestinais e até mesmo aumento da pressão e a possibilidade de lesões aos nossos rins. Os anti-inflamatórios são poderosos aliados, mas podem ter efeitos colaterais perigosos (para saber mais sobre o tema, eu escrevi um artigo completamente dedicado a esse tema aqui no meu blog.)

                E se eu e dissesse que há uma alternativa? Ou melhor, uma forma de controlar a dor que não fosse concorrente, mas que pudesse se utilizada conjuntamente e ainda por cima sem grandes efeitos colaterais? Parece bom demais para ser verdade, não é? Acontece que essa alternativa realmente existe.

A alternativa:

                A tal opção que parece milagrosa, na verdade não é nenhum milagre. Estou falando da boa e velha atividade física. Sim, ela faz parte do tratamento da artrose como um dos pilares mais efetivos. Não sou eu, Ricardo, que estou dizendo isso não, são os guidelines das principais sociedades internacionais que estudam o tema, como a AAOS, a OARSI e a ACR. O exercício físico figura entre as principais recomendações não-farmacológicas (que não envolvam remédios) como tratamento de primeira linha.

                O tipo de exercício parece não fazer diferença, sendo sempre superior a não fazer nenhum. Alguns trabalhos apontam superioridade de exercícios aquáticos e exercícios que envolvam “mindfulness” (preenchimento mental) como thai chi chuan e yoga, porem os resultados são inconsistentes.

As evidências:

                Ainda não te convenci? Então da uma olhada nesse trabalho aqui (link para o endereço: https://bjsm.bmj.com/content/57/15/990.long ), que foi publicado num renomado jornal científico (British Medical Journal) em conjunto por um grupo de pesquisadores chineses e britânicos. Neste trabalho, realizaram uma meta-análise (uma metodologia super avançada que reúne dados de diversos outros estudos) somando 17431 pacientes. Um número bastante expressivo!

                O objetivo desse estudo era comparar o uso de anti-inflamatórios orais com um programa de exercícios, avaliando os pacientes com aproximadamente 4 semanas. Os resultados foram muito impressionantes! Eles encontraram uma resposta similar em termos de melhora da dor e da função tanto quando comparamos os exercícios com anti-inflamatórios quanto com paracetamol. E você ai achando que a atividade física era uma vilã pro seu joelho.

 

O que o Ricardo recomenda?

                Eu sempre encorajo o inicio de alguma atividade física que reúna os benefícios desejados para o joelho, com acompanhamento adequado, e que esteja dentro da realidade do paciente. A personalização é fundamental, porque somente entendendo qual atividade faz sentido dentro do seu contexto para poder recomendar uma estratégia efetiva.

                De uma maneira geral, atividades sem impacto são melhor toleradas, como atividades de hidroginástica, pilates, musculação e até mesmo uma bicicleta.

O tratamento da artrose é multimodal e, por definição, multidisciplinar. Uma equipe envolvendo médico especialista, fisioterapeuta e educador físico pode trazer resultados realmente transformadores e até mesmo evitar ou postergar um procedimento cirurgico.

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Dr. Ricardo Duran Sobral

CRM: 52 1106287

TEOT: 18355

RQE: 44191

 

Referências:

1.      BANNURU, R. R. et al. OARSI guidelines for the non-surgical management of knee, hip, and polyarticular osteoarthritis. Osteoarthritis and Cartilage, v. 27, n. 11, p. 1578–1589, nov. 2019.

2.      KOLASINSKI, S. L. et al. 2019 American College of Rheumatology/Arthritis Foundation Guideline for the Management of Osteoarthritis of the Hand, Hip, and Knee. Arthritis & Rheumatology, v. 72, n. 2, p. 220–233, fev. 2020.

3.      American Academy of Orthopaedic Surgeons Management of Osteoarthritis of the Knee (NonArthroplasty) Evidence-Based Clinical Practice Guideline. https://www.aaos.org/oak3cpg Published 08/31/2021